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Crise de refugiados na Europa é apenas a ponta do iceberg


O verdadeiro e o falso na crise dos migrantes


O Papa Francisco alertou que a crise de refugiados na Europa é apenas a "ponta do iceberg" alimentado por um sistema econômico global injusto, que tem forçado centenas de milhares de pessoas a fugir da guerra e da pobreza em busca de uma vida melhor.

A classe política dos principais países confrontados com a chegada de migrantes em massa, não se coíbe de fazer afirmações sobre os refugiados – afirmações, muitas vezes falaciosas.
Analisemos as mais falaciosas e comuns

Na sua maioria, são imigrantes econômicos e não refugiados
Esta é uma das afirmações preferidas do primeiro-ministro húngaro.
Viktor Orbán diz que a grande maioria dos refugiados são, na realidade, imigrantes econômicos, uma afirmação que encontra eco em Robert Fico, o seu homólogo eslovaco.
No entanto, segundo os dados da Amnistia Internacional, das 244.000 pessoas que chegaram, este ano, por mar, às ilhas gregas, 90% é originária da Síria, do Afeganistão e do Iraque – países cuja situação representa verdadeiras razões para o asilo.
A porta-voz da ONG para os Refugiados, Iverna McGowan, explica: “São dados que podemos lançar à cara dos que dizem tratar-se de imigração económica. Estamos, claramente, com uma crise de refugiados entre mãos.
Não temos qualquer prova desse fluxo de imigração econômica. Temos investigadores no terreno, cidadãos de toda a Europa, que estão em contacto com essas pessoas, que ouviram as estórias dessas pessoas e que perceberam que se trata, realmente, de gente que está a fugir da guerra.
“Haverá, entre elas, pessoas que são migrantes econômicos? Obviamente que haverá mas isso não significa que, antes de mais, se tenha de adotar procedimentos exaustivos que permitam estabelecer qual o caso de quem.”

O Estado Islâmico está a enviar terroristas entre os migrantes
Nigel Farage já proferiu este tipo de afirmação várias vezes.
Depois de alegadas informações, veiculadas pela imprensa britânica, sobre a infiltração de jihadistas no seio dos migrantes, o líder do UKIP, o Partido Independentista do Reino Unido, reagiu imediatamente.
Farage afirmou ao Channel 4 News: “Quando o EI diz que vai usar o fluxo de migrantes para inundar o continente com 5.000 ou 500.000 ativistas jihadistas, ou ainda mais, temos de ter muito cuidados com esses jihadistas, [quando se trata da política de asilo da União Europeia].”
Charlie Winter, investigador sobre jihadismo na Quilliam Foundation, garante que não há quaisquer provas dessas alegações e está convencido de que o autoproclamado Estado Islâmico tem outras prioridades.
E acrescenta: “Embora seja uma ideia assustadora a de que jihadistas possam estar infiltrados no meio dos refugiados que atravessam as fronteiras, seria uma abordagem demasiado arriscada caso tivessem ordens específicas para realizar operações específicas. Seria imprudente e não me parece, necessariamente, a maneira mais lógica.”
A principal preocupação do líder do Estado Islâmico, atualmente, é manter o controlo dos territórios que domina no Iraque e na Síria e garantir que não vai perder terreno face às diferentes forças que o atacam.
Embora, [do ponto de vista do EI], a realização de atentados no Ocidente, de forma assustadora, notória e infame, seja benéfica, estes ataques não precisam de ser preparados a partir dos mais altos níveis do EI.
Uma opinião corroborada por Iverna McGowan, da Amnistia Internacional: “Grande parte dos que fogem da Síria estão, igualmente, a fugir do Estado Islâmico, de outros grupos armadas e, obviamente, do próprio regime sírio.”

A maioria dos requerentes de asilo vem para a Europa para viver de subsídios
Segundo o primeiro-ministro sérvio, Aleksandar Vučić, os subsídios pagos aos requerentes de asilo são responsáveis pelo afluxo de migrantes à própria Sérvia.
É verdade que os requerentes de asilo recebem subsídios enquanto esperam que os processos sejam tratados. Mas vejamos o valor desses subsídios:
Na Alemanha, um requerente adulto recebe 88,50€, em França 85,87€, 56,50€ na Suécia, 47,05€ no Reino Unido, 42,56€ na Holanda e 3,75€ na Hungria.
Serão estes valore suficientes para influenciar os pedidos de asilo?
Os dados do Eurostat, de janeiro a março de 2015, mostram que a Alemanha foi, de fato, o país que mais pedidos recebeu (73.120).
Mas, entre os países acima citados, a Hungria foi o segundo a receber mais pedidos (32.810) apesar de pagar apenas um subsídio de 3,75€!!!
Seguem-se a França (14,775), a Suécia (11,415), o Reino Unido (7,330) e, por fim, a Holanda (2,420).
Iverna McGowan, da Amnistia Internacional, explica:

“Vemos que a grande maioria destas pessoas está mesmo a fugir da guerra e da pobreza. Basta pensar na rudeza da viagem, no número de mortos, na perda de dignidade, para perceber quais são, realmente, os verdadeiros fatores [que os levam a sair dos seus países].
Não se trata de um passeio até à Europa. É uma viagem extremamente difícil. E temos de pôr fim a isso, oferecendo um acesso legal e seguro a quem precisa de proteção”.


De onde vem o dinheiro que financia o Estado Islâmico?


Entre os milhares de refugiados que chegam todos os dias à Hungria, uma grande parte foge dos horrores do grupo armado Estado Islâmico, que controla uma grande parte do Iraque e da Síria.
Raed Waleed Abdullah vem de Mossul, uma das cidades mais importantes do Iraque, agora nas mãos dos radicais:

Alguns contaram aos jornalistas o inferno que o grupo extremista faz passar, todos os dias, àqueles que continuam na zona controlada: “Todos os dias, o Estado Islâmico dá novas ordens e a situação é terrível. Não há eletricidade, obrigam-nos a viver segundo os padrões deles. Rejeitam a tradição dos santos e dos profetas. Esse não é o nosso modo de vida”, conta Raed.

Hala, a mulher de Raed, contou a forma como o grupo está a tratar as mulheres: “Fui proibida de sair de casa sem a companhia de um homem. Se o meu marido vai trabalhar, sou obrigada a ficar em casa. Não posso sequer levar os filhos à escola sem ser acompanhada por um homem. Quem recusa as regras deles é atirado do alto de edifícios. Estão a infligir sofrimento à população e não tínhamos outra saída senão obedecer-lhes”.


Apesar do percurso que ainda tem pela frente, Raed mostra-se aliviado por estar na Europa e mostra com orgulho o passaporte, despedindo-se com um “Bye-bye, Iraque”.


Wikileaks: EUA armaram Estado Islâmico e se recusaram a ajudar Síria no combate ao grupo

Os Estados Unidos se recusaram a ajudar o governo da Síria a combater grupos radicais islâmicos como a Al-Qaeda e o ISIS (Exército Islâmico do Iraque e da Síria, que recentemente mudou de nome para Estado Islâmico). Além disso, segundo revelações feitas pelo site Wikileaks, o governo norte-americano armou grupos como o ISIS. Os quase 3 mil documentos sobre essa questão foram vazados pelo site dirigido por Julian Assange na última sexta-feira (08/08).


Em 18 de fevereiro de 2010, o chefe da inteligência síria, general Ali Mamlouk, apareceu de surpresa em uma reunião entre diplomatas norte-americanos e Faisal a-Miqad, vice-ministro das relações exteriores da Síria. A visita de Mamlouk foi uma decisão pessoal de Bashar al-Assad, presidente sírio, em mostrar empenho no combate ao terrorismo e aos grupos radicais islâmicos no Oriente Médio, assinala o documento.

Neste encontro com Daniel Benjamin, coordenador das ações de contra-terrorismo dos EUA, “o general Mamlouk enfatizou a ligação entre a melhoria das relações EUA-Síria e a cooperação nas áreas de inteligência e segurança”, afirmam os diplomatas norte-americanos em telegrama destinado à CIA, ao Departamento de Estado e às embaixadas dos EUA em Líbano, Jordânia, Arábia Saudita e Inglaterra.

Para Miqad e Mamlouk, essa estratégia passava por três pontos: com o apoio dos EUA, a Síria deveria ter maior papel na região, a política seria um aspecto fundamental para ações de cooperação contra o terrorismo e a população síria deveria ser convencida dessa estratégia com a suspensão dos embargos econômicos contra o país. Para Imad Mustapha, embaixador sírio em Washington, “os EUA deveriam retirar a Síria da lista negra”. Nas palavras de George W. Bush, o país fazia parte do “eixo do mal”, junto com Coreia do Norte e Afeganistão.

Agência Efe

Armados pelos EUA, militantes do Estado Islâmico conseguiram lutar em cinco frente concomitantemente


Apesar da discordância entre EUA e Síria quanto ao apoio de Assad a grupos como Hezbollah e Hamas, os dois países concordavam quanto à necessidade de interromper o fluxo de guerrilheiros estrangeiros para o Iraque e impedir a proliferação de grupos radicais, como a Al-Qaeda, o ISIS e o Junjalat, uma facção palestina com a mesma orientação política. Para Benjamin, as armas chegavam ao Iraque e ao Líbano contrabandeadas pelo território sírio.


Mamlouk reforçou a “experiência síria em combater grupos terorristas”. “Nós não ficamos na teoria, tomamos atitudes práticas”, foram as palavras do chefe de inteligência de Assad. Segundo o general, o governo sírio não mata ou ataca imediatamente esses grupos. “Primeiro, nós nos infiltramos nessas organizações e entendemos o funcionamento delas”. De acordo com Damasco, “essa complexa estratégia impediu centenas de terroristas de entrarem no Iraque”.

Guerra do Iraque e surgimento do Estado Islâmico

No entanto, apesar de afirmarem cooperar com a Síria para combater o terrorismo, os EUA também trabalharam para armar os opositores sírios e isso causaria um problema maior na região: a criação do atual Estado Islâmico. Segundo documentos obtidos pelo jornal britânicoGuardian, grande parte do armamento utilizado pelo ISIS (antigo nome do Estado Islâmico) veio de grupos armados pelos EUA e cooptados por Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Califado Islâmico, que hoje controla territórios na Síria e no Iraque.



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Saddam al-Jammal, líder do Exército de Libertação da Síria, outro grupo anti-Assad, também jurou lealdade ao Estado Islâmico desde novembro de 2013. Para garantir tal apoio, o ISIS mudou a sua estratégia de controle: dava autonomia a essas autoridades locais em vez de controlar diretamente a governança das cidades. Como resultado, o ISIS se expandiu e conseguiu lutar em cinco frentes: contra o governo e os opositores sírios, contra o governo iraquiano, contra o Exército libanês e milícias curdas.


O armamento começou a ser enviado para os opositores sírios em setembro de 2013. Na época, analistas davam o ISIS como terminado e a alegação para fortalecer esses grupos era a de que o governo Assad havia usado armas químicas. Para enviar as armas, o governo Obama usou bases clandestinas na Jordânia e na Turquia. Aliados dos EUA na região, como Arábia Saudita e Catar, também forneceram ajuda financeira e militar.

Ironicamente, os EUA sabem inclusive a real identidade do líder do Califado. Durante um ataque à cidade iraquiana de Falluja em 2004, os norte-americanos prenderam alguns dos militantes pelos quais procuravam. Entre eles, estava um homem de 30 e poucos anos e pouco importante na organização: Ibrahim Awad Ibrahim al-Badry. 10 anos depois, ele se tornaria líder da mais radical insurgência islâmica contra o Ocidente, segundo informações de um oficial do Pentágono.


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