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Diálogo de Dilma com movimentos sociais e sindical não será opcional

Diálogo de Dilma com movimentos não será opcional
Para presidente do PT, segundo mandato precisará ter como marca a implementação de mesas permanentes de negociação

O clima de ansiedade que marcou a campanha eleitoral de 2014 permanece no ar diante das ações da oposição pelo terceiro turno.


Para o presidente do PT, o segundo mandato precisará ter como marca a implementação de mesas permanentes de negociação

O sentimento reflete a expectativa dos movimentos sociais e sindical em relação à formação do próximo governo da presidenta Dilma Rousseff e à cobrança de um segundo mandato mais aberto ao diálogo e às propostas da classe trabalhadora.

Ciente disso, o presidente do PT, Rui Falcão, um dos convidados para a análise de conjuntura, afirmou que a bancada mais conservadora do Congresso Nacional exigirá do governo maior proximidade com o movimento sindical, que não deve restringir a participação ao Ministério do Trabalho, mas participar decisivamente também da condução da política econômica.

Política esta que, conforme alertou, terá fiscalização do partido para que seja conduzida sem arrocho, retrocesso social e retirada de direitos.

Para Falcão, esse diálogo entre governo e movimentos deve vir acompanhado de medidas concretas e o PT tem compromisso partidário de cobrar a presidenta para que coloque em pauta a montagem rápida de uma mesa de negociação permanente sobre o fim do fator previdenciário, a redução de jornada para 40 horas semanais sem redução de salário, a valorização permanente do mínimo e a reforma tributária, com a correção da tabela do Imposto de Renda.

Reforma política e da comunicação 

Além das reivindicações acima, existe a pauta da reforma política, que está saindo de cena para ser substituída por uma concepção que pode trazer sérios prejuízos aos grandes partidos. “Se simplesmente acabar o financiamento privado, sem que aprovemos o financiamento público das campanhas, os maiores partidos, que mantêm fundações estruturadas e mobilizadas nacionalmente, com a produção de estudos, é que serão os mais prejudicados. Precisamos de um reforma política mais aprofundada, com bandeiras como o voto em lista com alternância de gênero. Esse é mais um tema que requer de nós mobilização e luta”, alertou.
Agora, para manter conquistas, a valorização salarial e conquistar direitos, alguém vai ter de perder ou ganhar menos e temos de ter cuidado para que a perda não venha para cima de nós
Rui Falcão, presidente do PT
Ele avalia que o próximo período será de intensos conflitos, já que a era do ganho para todos bateu no teto. “Nos últimos 12 anos, junto com a ascensão social, com distribuição de renda e com a queda da desigualdade, também tivemos os lucros para banqueiros e capitalistas. Agora, para manter conquistas, a valorização salarial e conquistar direitos, alguém vai ter de perder ou ganhar menos e temos de ter cuidado para que a perda não venha para cima de nós”, disse.

Como já afirmou em outros espaços, o presidente do PT voltou a criticar o déficit de comunicação da presidenta e disse tê-la alertado sobre a necessidade de estar mais presente nas ruas e colocar na ordem do dia a regulação da mídia por meio da regulamentação dos artigos 220, 221 e 223 da Constituição Federal.

Os artigos são fundamentais para a liberdade de expressão, pois tratam do combate ao monopólio e oligopólio da velha mídia, da regionalização da produção e da convivência paritária entre os sistemas público, estatal e privado de comunicação.

Passo seguro – Atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, ressaltou que a mobilização dos movimentos sociais será crucial não só para pressionar, mas também para dar segurança às transformações necessárias.

“O apoio da esquerda é fundamental para mostrar que a presidenta pode caminhar desse lado. Porque o que antes era motivo de constrangimento e vergonha, de assumir o conservadorismo, virou motivo de militância diante de um espaço que estava vazio. Mas a eleição trouxe a consciência à Dilma de que o governo deve ser mais aberto ao diálogo, não só com os excluídos, mas também com os representantes dos excluídos. O trajeto será difícil, mas a única alternativa para o governo é avançar.”

Pagar as contas sem frear o desenvolvimento

Diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Clemente Ganz Lúcio, afirmou que o papel dos movimentos sindical e sociais será disputar a política econômica para preservar o emprego. E, como disse Rui Falcão, é necessário que tenham centralidade no debate sobre essa pauta.

Ele defendeu a necessidade de reorganizar a atuação do Estado, especialmente do ponto de vista fiscal, mas sem deixar de lado a base do desenvolvimento na última década: geração de emprego e renda.Clemente afirmou que ajustes na política econômica devem servir para fomentar mais desenvolvimento, e não recessão


“Essa reorganização deve servir para sustentar o investimento público em infraestrutura econômica, com portos, aeroportos e estradas. A infraestrutura social, com a base na educação, saúde e transporte público. E servir para ampliar a capacidade do Estado em fazer o desenvolvimento industrial para que a agricultura, os serviços e comércio também cresçam. Todos os avanços devem estar combinados com a política distributiva que incrementa a capacidade do nosso mercado interno”, explicou.

Diferente do que fala o Mercado, pontuou, de que o ajuste fiscal deve servir exclusivamente para criar o equilíbrio das contas para a remuneração da dívida pública e o pagamento dos juros.

Indústria e emprego

A avaliação de Lúcio é a mesma do movimento sindical, de que a recuperação econômica parte, fundamentalmente, da recuperação da política industrial e agrária. A segunda, inclusive, com a unidade de lideranças do setor.

Para aumentar o fôlego da indústria, define, será necessário mudar o câmbio, com a desvalorização em parte da moeda, apesar da pressão de empresários com dívidas baseadas no dólar. E não perder de vista a necessidade de promover o desenvolvimento com respeito aos direitos trabalhistas.

Ele citou que alguns países sucateiam a mão de obra como forma de baratear o produto, como a China, que já terceiriza a produção para o Vietnã, e acredita que outros países irão mais a fundo, adotando a produção em nações como a Etiópia, onde a mão de obra é ainda mais barata.

Emprego

Clemente Lúcio citou também que a redução da geração de novos postos de trabalho formal, aliada ainda à alta rotatividade, tem contribuído para a diminuição, em 2014, da massa salarial e dos rendimentos médios. Segundo levantamento do Dieese, somente as atividades de agricultura, extração vegetal, caça e pesca e serviços têm crescido acima da média nacional (2,9%).

Em relação aos salários, segundo o Dieese, o cenário permanece positivo. De 512 negociações em 2014, 94,1% do superaram a inflação e somente 2,0% acumularam perda, resultado inferior apenas a 2012, quando 96,1% asseguraram a ampliação do poder de compra.

O diretor do Dieese destaca que as primeiras nomeações de Dilma dão um recado para a sociedade de preocupação com a responsabilidade. Mas ressalva que o desenvolvimento deve ter como base a produção e não a recessão.

“Não serão ministros que farão ajustes neoliberais, imagino, mas que dão o recado de que será uma política de investimento produtiva, honrando assim a dívida pública. O pagamento da dívida, porém, não deve ser nossa prioridade e sim o desenvolvimento produtivo. Espero que a presidenta Dilma consiga manter esse caminho”, sugere. 
Fonte: CUT Escrito por: Luiz Carvalho com colaboração de André Accarini e Tatiana Melim

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