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PREMIO NOBEL DA PAZ MANDA 300 SOLDADOS PARA GUERREAR NO IRAQUE

Iraque: o feitiço e o feiticeiro
O Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), agora liminarmente denominado Estado Islâmico, anunciou no domingo a restauração do Califado aclamando o seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, califa e caudilho do Islão mundial. 
Aos pés da organização fundamentalista baqueou já mais de um terço do território iraquiano, algumas das suas principais cidades como Falluja, Mossul, ou Tikrit, bem como pontos-chave da produção petrolífera daquele país árabe. Enquanto o Estado iraquiano se desintegra e batalhões inteiros do exército desertam, os islamitas continuam o seu avanço rumo a Bagda.
O parlamento iraquiano é a alegoria que melhor representa a trágica balcanização do Iraque e a desagregação do Estado. Anteontem, os deputados recém-empossados reuniram para eleger o presidente, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia. Com os combatentes do Estado Islâmico a menos de 50kms e o som dos tiros a pontuar os minutos, os deputados foram incapazes de chegar a qualquer acordo durante a sessão da manhã. Na sessão da tarde a Assembleia já não conseguiu quórum: apenas 75 dos 328 deputados voltaram.

Dividir para reinar

Historicamente, o enfraquecimento dos estados independentes e a divisão dos povos foi o mecanismo eleito pelo imperialismo para controlar a região. Foi assim que, na sequência da invasão do Iraque, os EUA trataram de dobrar a unidade e resistência do povo iraquiano acicatando as diferenças entre sunitas e xiitas e instrumentalizando secessionismos antigos. Ao imperialismo não bastou roubar a vida a um milhão de iraquianos, roubou também a identidade nacional a um povo inteiro. 
Paul Bremer, o homem escolhido por Bush para governar o Iraque ocupado e escrever a nova Constituição, gabava-se de «não saber muito sobre a História do Iraque». Quando o Museu Nacional Iraquiano, em Bagdad foi bombardeado e saqueado, Donald Rumsfeld referiu-se à perda irreparável desse tesouro da civilização humana perguntando-se, em tom jocoso, se «havia assim tantos vasos no Iraque?».
Foi a estratégia estado-unidense de fracturação da sociedade iraquiana que abriu, de par em par, as portas à irrupção do Estado Islâmico: os sunitas, que desde a de-baathificação vinham sendo discriminados e perseguidos, engrossam hoje as fileiras do Califado; os peshmergas curdos, abandonados à sua sorte pelo exército iraquaiano, sonham já com a secessão; até o próprio Estado Islâmico, que agora Obama diz combater, é uma antiga criação norte-americana.


A diplomacia da esquizofrenia


Se dúvidas restarem sobre a esquizofrenia dos EUA basta olhar para a fronteira ocidental: do lado sírio, o Estado Islâmico recebe armas, dinheiro e apoio político dos EUA; do lado iraquiano, a mesma organização é o alegado inimigo.

A oposição do povo norte-americano à guerra tinha obrigado Obama a recorrer cada vez mais a grupos terroristas regionais para a execução da sua agenda imperial. O problema é que estas organizações terroristas não vêem fronteiras. No caso da Síria e do Iraque, trata-se de uma linha traçada a régua e esquadro pelos imperialistas britânicos e franceses, em 1916, para repartir o espólio do Império Otomano. Mas o recrudescimento do sectarismo, a decomposição da identidade nacional iraquiana e a hecatombe da guerra ameaçam esfumar esta fronteira, autorizando as forças islamitas mais reacionárias a vaticinar a reconfiguração religiosa dos estados do Oriente Médio. De Aleppo, na Síria ensanguentada pela agressão imperialista, à longínqua Diyala, no Iraque, este conflito matou, só em Junho, mais de 3000 pessoas e gerou pelo menos meio milhão de refugiados.
A caixa de Pandora está aberta. Os EUA temem que um Estado iraquiano forte ouse quebrar a sua tutela, mas tampouco o querem exangue e sem capacidade de resistir ao Estado Islâmico, ao mesmo tempo que promovem o caos na Síria e aleitam a guerra na região. O enigma complica-se continuamente.
Enquanto não há soluções óbvias, a decisão de Obama de enviar mais 300 soldados para o Iraque é mais da mesma receita para perpetuar uma guerra infinita. Pretende manter viva uma máquina de fazer guerra ao povo iraquiano, o único que saberá como fazer a paz.

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