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Parceria entre os diretores do HSBC e o narcotráfico transferem 500 mil milhões de dólares do México para os Estados Unidos.

A história dos traficantes colombianos que lavaram dinheiro no HSBC


500 mil milhões de dólares americanos transferidos do HSBC do México para os Estados Unidos, 1,1 mil milhões obtidos no narcotráfico. São estes os números apontados pelas autoridades para o esquema de lavagem de dinheiro levado a cabo entre traficantes de droga da Colômbia e o banco HSBC. Enquanto o banco vai ter de pagar para não ser controlado pela justiça, Chaparro lê a bíblia na prisão enquanto aguarda a sentença 

Em Janeiro de 2010 o tribunal federal de Brooklin, nos Estados Unidos, recebeu vários suspeitos do crime de lavagem de dinheiro, algo que, à partida, parecia ser mais um caso ligado ao tráfico de droga e uso ilícito de fundos. Contudo, o caso estava ligado ao banco HSBC, um dos maiores a nível mundial, com sede no Reino Unido, nomeadamente através da sua sucursal no México.  Um dos homens presente nesse dia no tribunal foi Julio Chaparro. Pai de quatro filhos e com 48 anos de idade, Julio era dono de três fábricas que produziam roupa para criança, na Colômbia.
O Ministério Público (MP) acusa Chaparro de ter ajudado a levar a cabo um sistema de lavagem de dinheiro para traficantes de droga que tiraram vantagens das baixas medidas de controlo do banco HSBC Holdings. Ele foi um dos pontos fulcrais para as autoridades norte-americanas envolvidas no processo de investigação. No passado dia 11 de Dezembro, as autoridades selaram um acordo de 1,9 mil milhões de dólares que irão ser pagos com o banco.
As provas contra Chaparro surgiram nos últimos dois anos com mais duas outras investigações, levadas a cabo pelo MP e investigadores de West Virgínia e pelas autoridades do distrito de Manhattan – o que resultou no acordo selado este mês com o HSBC.

O banco e os seus empregados foram indiciados pelas autoridades e a direcção concordou em pagar os milhões estipulados no acordo, em vez da obrigação de reforçar os seus controlos e aceitar a implementação de um sistema de monitorização.
Quanto a Chaparro, aguarda a sua sentença que poderá chegar este ano, numa prisão norte-americana. A lei diz que pode ser sujeito de 15 a 18 anos de cadeia. Enquanto espera pela sentença, lê a Bíblia. “Ele está arrependido e envergonhado por causa dos seus crimes”, disse um antigo procurador à Reuters. “Quer ocupar o seu tempo e restituir a família. Ele compreende que a prisão o pode levar a prevenir daquilo que aconteceu durante muitos anos”.
Os agentes federais estimam que tenham sido transferidos do HSBC no México 500 milhões de dólares para as operações do banco nos Estados Unidos. Entre 6 de Outubro de 2008 e 13 de Abril de 2009 Chaparro e os seus companheiros terão transacionado um total de 1,1 mil milhões de dólares oriundos do tráfico de narcóticos.
O papel de Chaparro
Julio Chaparro “colocou a orquestra a tocar” e os investigadores viram-no como “uma das maiores figuras na lavagem de muito dinheiro”, disse à Reuters James Hayes, um agente especial que trabalha nas áreas de investigação e segurança no departamento norte-americano para a imigração e alfândega de Nova Iorque.

Ephraim Savitt, advogado do colombiano, disse que Chaparro tinha um papel de intermediário nas operações, mas dispunha de uma extensa lista de clientes.  Este foi preso na Colômbia em 2010 e extraditado para os Estados Unidos em 2011, declarou-se culpado de uma conspiração ligada a lavagem de dinheiro em Maio e está à espera da sentença em 2013. O porta-voz do HSBC recusou-se a comentar o caso. Os investigadores fizeram o seu trabalho analisando os movimentos de pessoas que alegadamente trabalhavam com Chaparro, e que tinham permissão para levar a cabo um processo de lavagem de dinheiro num dos maiores bancos do mundo. Na operação, designada El Dourado, foram usadas escutas telefónicas, pesquisas de email e informática, informações de várias fontes, e vigia, por forma a juntar as peças do puzzle.
Como funcionava o esquema 
Os cartéis de droga venderam estupefacientes nos Estados Unidos e levaram o dinheiro para o México, usando muitas vezes correios para fazer contrabando na fronteira.

Esse dinheiro seria colocado em contas bancárias na unidade do HSBC no México, onde depósitos de grande quantidade poderiam ser colocados sem grandes suspeitas, segundo documentos do departamento da justiça norte-americana.  O Ministério Público (MP) norte-americano acusa ainda Chaparro e outros de alegadamente terem usado contas no HSBC do México para depositar “notas oriundas da droga e depois colocar esses fundos para negócios localizados nos EUA e outros lugares. Os fundos iriam servir para comprar bens de consumo, que depois eram exportados para a América do Sul e revendidos por forma a gerar dinheiro limpo”.

Numa transação comum, um intermediário de um cartel de droga oferecer-se-ia para entregar bens de consumo, como computadores ou máquinas de lavar, para negociantes colombianos em termos favoráveis. Outra pessoa nos EUA iria comprar os produtos de empresas que usavam dinheiro do tráfico de droga, e cumprir as suas ordens.  Os autores da lavagem de dinheiro exploraram a falta de politicas de controle por parte do HSBC no que diz respeito aos fluxos de dinheiro, disse o departamento da justiça em Dezembro. As falhas incluíam não conduzir os procedimentos feitos pelos clientes, não monitorizar de forma adequada as transferências de dinheiro por via electrónica e não ter empregados suficientes para desenvolver sistemas anti-lavagem de dinheiro. Lanny Breuer, procurador-geral adjunto norte americano, considerou tratarem-se de “falhas inacreditavelmente impressionantes de supervisão”.
Segundo o departamento de justiça, a situação era tão má que, em 2008, o principal responsável pelas operações do HSBC no México disse aos reguladores do pais que um barão da droga local tinha descrito o banco como “o lugar para lavar dinheiro”.
Como funciona a luta contra a criminalidade nos EUA
Por outro lado, se você é uma pessoa importante, e você trabalha para um banco internacional de grande, você não vai ser nunca vai ser preso ou processado mesmo se você lave nove bilhões de dólares.
Mesmo se você ativamente colabore com as pessoas no topo do comércio internacional de narcóticos, sua punição será muito menor do que a pessoa na parte inferior da pirâmide mundial da droga. Você será tratado com mais deferência e simpatia do que um viciado desmaiando em um vagão do metrô em Manhattan (ocupar dois assentos de um vagão de metrô é um crime comum processados judicialmente nesta cidade). Um traficante internacional de drogas é um criminoso e, geralmente, um assassino, o viciado em drogas andando na rua é uma de suas vítimas.
Mas, graças a Breuer, agora os EUA entra no negócio, oficialmente, de prender as vítimas e permitindo que os criminosos seja libertados.
Esta é a desgraça para acabar com todas as desgraças. Ela não faz muito sentido. Não há nenhuma razão para que o Departamento de Justiça não poderia ter arrebatado todos criminosos no HSBC envolvido com o tráfico, processado a eles criminalmente, e trabalhado com entidades de regulamentação bancária para certificar-se de que o limpou o banco que sobreviveu à transição para a nova gestão. O HSBC  por ele mesmo substituiu praticamente toda a sua administração. Os culpados não eram, aparentemente, tão importante para a estabilidade da economia mundial.

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